Concentração de renda no futebol.

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Mochileiro
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Registrado em: 27 Mai 2012, 23:40

Concentração de renda no futebol.

Mensagem por Mochileiro »

[align=justify]DEBATE ABERTO
Par ou ímpar
A tevê faz com que caminhemos para uma grande concentração de renda no futebol, e isso pode destruir justamente um dos fatores que fazem nosso campeonato nacional ser tão interessante: a imprevisibilidade. Se depender dos atuais critérios de pagamento e exibição, em breve o Brasileirão pode virar um campeonato de par ou ímpar.

José Roberto Torero

No futuro pode ser que o Brasil também seja um destes países que têm apenas dois clubes que disputam o título nacional. Assim como na Espanha somente Real Madrid e Barcelona brigam pelo título, dentro de algum tempo poderemos ter Flamengo e Corinthians dominando amplamente o futebol nacional.

Por quê? Por causa da tevê. Ou melhor, por causa do dinheiro da tevê e da exibição concentrada.

Comecemos pelo dinheiro.

Recentemente os clubes fecharam acordos individuais com a Globo. Como Flamengo e Corinthians têm maiores torcidas, receberão mais de R$ 100 milhões por ano. Os valores vão caindo para os outros times, e, mesmo entre os grandes, há quem ganhará menos da metade do que recebem Mengo e Timão.

O problema é que não importa se estes dois times de massa estarão jogando bem ou não. Ou seja, não há meritocracia. E poderia haver, para incentivar os pequenos e para premiar as boas campanhas, permitindo que clubes como o Figueirense e o Atlético Goianiense, que foram bem no ano passado, não percam muitos jogadores no fim do Brasileiro.

Um exemplo interessante de se observar é o modelo inglês, que recentemente foi adaptado pela UEFA. No campeonato da Ilha, metade do dinheiro vindo da tevê é dividido igualmente entre os times. E a outra metade é repartida segundo critérios como o ranking e o mercado consumidor do clube.

Mas há ainda um outro problema. A concentração de exibição.

A Globo passa muito mais jogos de Corinthians e Flamengo do que dos outros clubes. Claro que eles têm mais torcedores e merecem aparecer mais. Mas não tão mais.

No primeiro turno do campeonato nacional, por exemplo, serão vistos oito jogos do Corinthians. Santos e Palmeiras, depois de reclamarem, deverão ficar com três partidas apenas. Menos da metade. E algo parecido deve acontecer com o Flamengo. O rubro-negro terá pelo menos o dobro do número de jogos transmitidos de Fluminense, Botafogo e Vasco.

Obviamente um time mais exposto conquistará mais torcedores. Tendo mais torcedores, arrecadará mais dinheiro da tevê. E tendo mais dinheiro poderá trazer melhores jogadores.

Sem falar que um time mais exposto também pode pedir mais dinheiro de publicidade.

No caso desta centralização da exibição, novamente poderíamos ter uma certa meritocracia, com a tevê mostrando os times em melhores posições.

Lembro que o campeonato italiano já teve algo semelhante, com os jogos transmitidos sendo os que tinham equipes melhores colocadas, aquelas que somavam mais pontos. Claro que este não deve ser o único critério, porque um jogo entre os já citados Figueirense e Atlético Goianiense talvez não trouxesse grande público. Mas é preciso encontrar um equilíbrio. Mesmo porque os torcedores de outros times podem querer ver o espetáculo do futebol, e não apenas os clubes de maior torcida.

Em resumo, a tevê faz com que caminhemos para uma grande concentração de renda no futebol, e isso pode destruir justamente um dos fatores que fazem nosso campeonato nacional ser tão interessante: a imprevisibilidade.
Se depender dos atuais critérios de pagamento e exibição, em breve o Brasileirão pode virar um campeonato de par ou ímpar.

José Roberto Torero é formado em Letras e Jornalismo pela USP, publicou 24 livros, entre eles O Chalaça (Prêmio Jabuti e Livro do ano em 1995), Pequenos Amores (Prêmio Jabuti 2004) e, mais recentemente, O Evangelho de Barrabás. É colunista de futebol na Folha de S.Paulo desde 1998. Escreveu também para o Jornal da Tarde e para a revista Placar. Dirigiu alguns curtas-metragens e o longa Como fazer um filme de amor. É roteirista de cinema e tevê, onde por oito anos escreveu o Retrato Falado.
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